O Que Já foi Dito...


"Ontem fui assistir Fábrica de Chocolate, já tinha ouvido falar e li um resumo da peça, mas assistir ao vivo e a cores é uma experiência impactante. Só sente na alma o que realmente esta peça representa, quem viveu de certa forma naqueles anos, eu era criança, mas lembro bem de meus irmãos e pais comentando sempre sobre a ditadura e seus tentáculos. Há pessoas neste país que deveriam assistir essa peça, aqueles que insistem em dizer que nunca houve ditadura... Parabéns Fábio e a toda a equipe de atores, atuar é uma coisa, mas tocar a alma de quem está assistindo como esses atores fizeram ontem à noite, é outra coisa totalmente diferente..." 
Claudio Wieser
Designer Gráfico 

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UMA RADIOGRAFIA DOS PORÕES DA DITADURA MILITAR
Quando Fábio Nougueira contou de seu novo espetáculo: “Fábrica de Chocolate” fiquei surpreso e curioso. Assisti a montagem de Ruy Guerra em 1979 na Sala Gil Vicente do Teatro Ruth Escobar. Espetáculo denso. Elenco afinado. Ruth Escobar, Rolando Boldrin, João José Pompeo, José Dumont, Luís Carlos Laborda e Mauro de Almeida davam vida à crueldade daqueles seres que tanto nos atormentaram.
Lembro-me de uma frase de meu velho pai que dizia: Você só vai entender o que acontece quando você passar por aquela experiência. Digo isso porque esta semana estava na casa de um amigo e seu filho de uns sete anos, assistindo desenho animado dizia: Vai, mata ele! Dá porrada nele! Confesso que fiquei um pouco confuso.
O texto de Mário Prata relata fatos angustiantes de um período obscuro da história do Brasil. Os personagens passeiam em cena com naturalidade, num clima quase sereno, cotidiano. O Jogo de futebol, a música e a necessidade de construir um roteiro que transforme a morte de um “comunista” em um suicídio capaz de transformar em realidade a ficção proposta.
Assim o metateatro vai sendo construído. Entramos em uma sessão de tortura. Sua rotina mostra o torturador e sua ação para liquidar o “comunista” ou qualquer outro elemento que ouse contrariar o sistema. É preciso criar uma história que seja credível para não comprometer. A morte é transformada em suicídio, mas é preciso proteger ainda mais o sistema e criar um novo assassinato para que a verdade seja mais verdadeira.
Fábio Nougueira cria um espetáculo com signos que nos permite fazer uma radiografia daquele período, visitar os porões e conviver com a ditadura e seus torturadores durante os devaneios macabros para encobrir a brutalidade dos crimes cometidos. As marmitas e o vômito final reproduz a indignação e o nojo que sentimos daquele período. A cenografia e a iluminação criam o ambiente necessário para esta viagem.
O elenco formando por Andrea Renolfi, Gabriel Mota, Gisele Galindo, Juliano Bonfim, Pablo Miranda e Tatiana Ottoboni é muito jovem -certamente só conheceu este período através da literatura- mas entrega-se com vigor aos personagens, suas taras, conflitos e arranjos para acobertar as dilacerações de um sistema comprometido e doente.
Fabrica de Chocolate continua atualíssimo porque estamos a meio de um debate que me atormenta: “o controle e fiscalização dos meios de comunicação”. Já vi e vivi esta história.
Vicentini Gomez
Ator e cineasta


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Fábrica de Chocolate
Fábrica de Chocolate foi encenada pela primeira vez em 1979, em montagem produzida por Ruth Escobar com direção de Ruy Guerra, tornando-se um dos textos do chamado teatro da resistência. O autor Mario Prata, que anteriormente já havia brindado o publico com outro texto de qualidade - Cordão Umbilical - também é responsável por um grande sucesso na televisão, a novela "Estupido Cupido". Ao adentrar o terreno da dramaturgia engajada, Mario Prata nos brinda com um trabalho de qualidade, onde aborda a questão da tortura no Brasil , pela visão dos torturadores através de relatos de um psicologo que fazia o atendimento de alguns desses torturadores.
Para José Fábio Sousa Nougueira, que pela segunda vez dirige uma montagem do texto em questão, e para o grupo Theatro 2 Produções, trata-se de um desafio com boa dose de coragem. A tortura nos carceres dos órgãos de segurança publica em passado recente deste pais, ainda é um tema cujas discussões se perdem entre os emaranhados da politica nacional. No momento em que a anistia virou um balcão de negócios para obtenção dos chamados reparos morais, desvendar a ação dos torturadores passou para um segundo plano em matéria de vontade politica ou prioridade.
Uma nova montagem de Fabrica de Chocolate representa um desafio para todos nos. Obriga-nos mais uma vez a olhar de frente para este tema que sempre representou ser um tabu, um enigma, principalmente para as gerações que escaparam destes tempos terríveis. Sob o olhar da dramaturgia, na medida em que Mario Prata se recusa a uma emoção barata com relação às vitimas, decidiu-se pelo aprofundamento na procura do entendimento dos valores e dos aspectos morais e familiares dos que se ocuparam em exercer uma função degradante.
Os torturadores não tinham nomes, mas codinomes e hoje muitos ocupam postos de destaque em setores governamentais. Sem saber, você pode ser amigo intimo de um deles, camuflados que estão no dia a dia compartilhando solenidades e festas de aniversario Neste particular o diretor Fábio Nougueira, optou por reformular sua montagem anterior, concebendo neste novo trabalho uma tentativa de materializar a forma como os torturados, viam seus torturadores nos momentos em que eram violentados em seus direitos como seres humanos.
Com estréia marcada para amanha, dia 29, no Teatro Municipal de Presidente Prudente, Fábrica de Chocolate relembra fatos de nossa historia, de forma que não caiam no esquecimento. Nao existe na montagem a ideia oca de chocar, mas sim, proporcionar momentos de reflexão, de analise dessa questão para que nunca mais ocorra entre nós.
Carlos Pinto
Jornalista, Secretário Municipal de Cultura de Santos 

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Fui assistir ao espetáculo FÁBRICA DE CHOCOLATE, ontem no Centro Cultural Matarazzo. Trabalho do grande Mestre Fábio Nougueira. Com a bela e incisiva atuação da amiga Gisele Galindo.
Não vivenciei os momentos retratados no espetáculo mas, além de conhecer a realidade dos tempos de Regime, senti que os anos passaram, os nomes mudaram, mas muita coisa ainda está lá: nos porões da ditadura. Hoje com outros títulos, outros nomes, outros rótulos, outras marcas... Ainda somos reprimidos. Mas por outro lado ainda podemos lutar.
Parabéns pelo trabalho. Parabéns pela montagem clara, objetiva e limpa.
Não são necessários os "anexos", quando a PALAVRA expressa toda a informação.


Recomendo aos amigos!!!
Fabiano Leamas
Ator, Repórter/Apresentador da TV Bandeirantes 

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"Como fui encarado pela Ditadura no final dos anos 70 - quando estudante em São Paulo e Belo Horizonte-, reviver os sentimentos e o clima da época não foi fácil! Parabéns ao diretor Fábio Nougueira e pelo elenco que transmitiram a realidade da tortura, do clima de perplexidade que vivíamos, nem sequer restava esperança, parecia um guerra perdida. Que a comissão da verdade resgate a história. Parabéns minha querida Andrea Renolfi, Gisele Galindo, Tatiana Ottoboni e todo o elenco". 
Henrique Chagas
Advogado, Blogueiro, criador do blog "Verdes Trigos"